Edição: | Arlindo Alegre Donário e Ricardo Borges dos Santos

<<Este livro, sendo o fruto de maturação e discussão de vários anos, deu-nos a oportunidade de alterarmos as ênfases e interpretações que tínhamos por adquiridas, relembrando que o conhecimento científico é provisório, sempre em mutação, pois tudo está em constante movimento e transformação no âmbito do relativo, numa dinâmica dialética.>>

<<Ao longo deste livro procuramos apresentar os modelos da Economia de acordo com a teoria dominante, a teoria neoclássica, mas fazendo uma crítica a esses mesmos modelos de acordo com outras teorias e com a nossa própria visão. Na maioria dos textos a economia é apresentada como sendo uma ciência neutra, livre de juízos de valor, um pouco como semelhante às ciências naturais, como a física e a química, com modelos matemáticos que dão a ilusão de que as conclusões são exatas.

Mas basta ler um dos muitos manuais de economia para verificar que os juízos de valor impregnam esses manuais de forma evidente.

A apresentação dominante considera que os mercados são suficientemente competitivos e que, na maioria dos casos, levam a resultados eficientes, sem qualquer intervenção do Estado. Segundo a teoria neoclássica, a intervenção do Estado ou é ineficaz ou gera ineficiência, pelo que essa intervenção é socialmente danosa. O ser humano desenvolve-se em duas grandes dimensões, a individual e a coletiva. O indivíduo realiza-se fora daquilo que não é. Se a dimensão individual se impõe ao indivíduo como uma verdade insofismável, concretizada pela sua dependência relativamente aos vários subsistemas que compõem o seu próprio corpo, nomeadamente, o anatómico, o circulatório, o nervoso, etc., já a dimensão coletiva impõe-se-lhe através de uma verdade cosmológica, pois este pertence a uma natureza que lhe impõe a cooperação como forma de sobreviver e de se realizar. Neste sentido, a cooperação é-lhe inata a começar pela própria relação que o bem supremo, a vida, tem com a natureza, em particular o oxigénio. O oxigénio é o primeiro combustível para que a vida humana se possa efetivar e, por conseguinte, os órgãos do corpo funcionem. A cooperação continua intrínseca ao indivíduo dada a necessidade, desde tempos imemoriais, de este se juntar em grupos para poder efetuar tarefas e alcançar objetivos que sozinho não seria possível, nomeadamente, no âmbito da segurança.

Com o desenrolar da história, o Homem tem vindo a especializar-se cada vez mais, levando assim, a uma cada vez maior necessidade de cooperação entre os seres humanos. No entanto, essa cooperação tem vindo a ser consubstanciada na moeda, ficando os indivíduos dependentes de a possuírem para poderem prover as suas necessidades e desejos.

Estas duas dimensões são, de facto, antagónicas, na justa medida em que individualmente o ser humano é intrinsecamente egoísta, mas por outro lado, necessita dos demais indivíduos para se realizar e prover às suas necessidades e desejos…»
In introdução